Catiuza VIana

Você se sente sem chão?  

Muitos não sabem o que é ser um simples humano que anda no traçado do tempo em busca de si mesmo. “Moram em belos endereços, mas nunca encontraram um endereço dentro de si…” (Augusto Cury).

Quem de vocês já não ouviu ou utilizou a expressão “fiquei sem chão” referindo-se àquela situação difícil, que o deixou sem ação, sem saber o que falar e como reagir? Ficar sem chão é se sentir vulnerável, longe do lugar de segurança e abrigo que metaforicamente é, em geral, atribuído a nossa casa. Remete, portanto, a inércia frente ao desconhecido, quando somos pegos de surpresa tão fortemente que paralisamos e precisamos de tempo para nos reorganizar ou readaptar.

Apesar de socialmente sermos criados e ensinados que o nosso lar é o espaço mais importante, esse lugar nem sempre enseja um mar de tranquilidade e completude. Se olharmos com honestidade podemos reconhecer isso em nossas próprias experiências, pois, muitas vezes no lar estão nossos maiores conflitos. Não é mesmo?

No contexto atual da pandemia, nossos espaços de circulação foram reduzidos e tem sido recorrente o relato das pessoas sobre a dificuldade de estar em casa em tempo integral. Assim, a forma como nossas casas foram internalizadas positivamente ou negativamente por nós mesmos, tem reflexo direto na resposta adaptativa que expressamos frente ao isolamento social.

Se para alguns tem sido fácil desfrutar de mais tempo com os familiares e consigo mesmo, para outros tem sido um grande desconforto, um duelo de memórias, dores e histórias. Pessoas reféns do confronto diário e ininterrupto com suas relações falidas, abusivas ou controversas, ou a falta de qualquer tipo de contato diário com outras pessoas, no caso, daqueles que moram sozinhos. Tudo isso acarreta sofrimento e corrobora para o aparecimento/agravamento de sintomas, tais como: compulsões, pânico, ansiedade e solidão.

Eu diria que já é bastante desafiador sermos confrontados com a finitude de nossa própria existência, bombardeados pelo crescente número de mortes. Logo, se não nos esforçarmos em centrar nossa mente de modo à ressignificar essa relação com nossa própria vida e nosso lar, esse território seja de convivência ou solidão, assim, dificilmente nos manteremos saudáveis.

Portanto, se eu pudesse dizer algo que nos conforte, diria que não é hora para ser carrasco de si mesmo e muito menos daqueles mais próximos, que dividem esse espaço de isolamento com você. Combatam a angústia e os sintomas com a busca de autoconhecimento, identifiquem o que te afeta e busquem ajuda profissional se necessário.

Lembrem de exercitar a auto aceitação e a tolerância, gerenciando níveis de estresse e pensamentos que intensificam os sintomas. Observem como estão as pessoas ao seu redor. Identificar quem precisa de ajuda, apoio e acolhimento, é uma excelente forma de exercitar seu autocontrole e capacidade de empatia.

Proteja suas emoções de desgastes desnecessários! A inteligência emocional é o que nos dá resiliência para superar um dia de cada vez, estabelecendo novos padrões, reeditando alguns aspectos nocivos da nossa própria personalidade. O chão da sua própria casa é o endereço de sua individualidade e pode sim te salvar. Esse lugar seja de pertencimento ou de exclusão é onde reside quem você verdadeiramente é em constante movimento.

Meu desejo para o mundo é que ao final dessa jornada tão complexa possamos renascer pessoas melhores do que temos sido até aqui.